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Milhares de pessoas nas ruas de Fortaleza movidas por uma única pauta: a insegurança pública. Sem UNE, sem CUT, sem a esquerda e sem os gabinetes de políticos, o movimento abrigou milhares de adesões espontâneas. Um ato civil, pacífico e ordeiro. A mais pura manifestação da cidadania cobrando o que lhe é de direito.
Nascido do incômodo de muitos, o ato germinou e cresceu divorciado da política tradicional. O movimento não tinha pais (porém, tinha mães). Tal característica deixou a esquerda desnorteada e a direita irresoluta. Ou vice-versa, como queiram.
Abrigo de nove entre dez partidos políticos, o poder trocou os pés pelas mãos, balbuciou algumas palavras desconexas e cambaleou em sua chocante incapacidade de oferecer as respostas que os manifestantes tanto pedem.
É evidente que sobrou também para a imprensa. Mal acostumadas com as primaveras, que são sempre tão parcas nos trópicos, parte das redações de nosso Ceará não soube o que fazer. Muitos de nossos jornalistas costumam retorcer a boca para o que não vem da política tradicional da esquerda militante.
Parte de nossa imprensa só ouviu, lá longe, os cães latirem, mas não perceberam a caravana da cidadania a passar célere e indignada, com suas mãos espalmadas pintadas do vermelho de sangue. Deram de ombros. No que diz respeito ao papel da imprensa, a pior das opções.
Assim como a nossa política, parte da imprensa não sabe lidar com o que surge espontaneamente na sociedade. Não havia sindicatos, não havia associações, não havia entidade de classe. Não havia financiamento público. A mobilização era exclusiva da cidadania privada a favor dos que os americanos do norte se acostumaram a denominar de “direitos civis”.
Direitos civis, direitos coletivos e direitos individuais. Não era um “Fora Sicrano” ou “Fora Beltrano”, palavras de ordem clássicas de quase todas as mobilizações organizadas no Brasil. Foi um ato que teve o Hino Nacional como trilha sonora.
Foi um ato em que as pessoas estavam preocupadas em colocar o copinho plástico de água em seu devido lugar: no lixo. Um ato movido pela gentileza. Sim, gentileza, coisa raríssima em nosso cotidiano tramado pela violência simbólica e objetiva.
Mas, voltando à imprensa, qual o seu papel em relação a movimentos como o da mão espalmada? Simples: cobrir. Abrir espaços em suas páginas para expor ao distinto público o que está acontecendo. Render-se às contingências da pauta oficial não é o caminho. Lamentavelmente, houve quem escolhesse tal opção.
A partir de um momento em que a articulação ganha corpo e representatividade no âmbito da sociedade, abriga-se dentro da lei e representa anseios justos, cabe à imprensa oferecer visibilidade aos acontecimentos e, se for o caso, até conceder apoio editorial.
Cabe à imprensa se engajar em causas pela cidadania, pelos direitos civis, individuais e coletivos. Ao longo da história da imprensa, tem sido esse comportamento a motivação maior de sua existência.
O pior dos mundos se dá quando, na ânsia de agradar ao poder que controla o tesouro, promove-se uma cobertura que rebaixa os acontecimentos, que os trata como algo banal, buscando sugar a força dos acontecimentos.
UMA CAUSA A FAVOR DE TODOS
A coisa se deu da seguinte maneira: todos se diziam favoráveis ao movimento e blá, blá, blá, mas faziam, digamos, ponderações quanto à natureza social das pessoas que estavam organizando o “Fortaleza Apavorada”. Ora, ora.
Por serem majoritariamente de corte social da classe média para cima, essas pessoas não teriam a legitimidade para tocar tal pauta. Antes, elas estariam obrigadas a falar, por exemplo, da educação pública. Antes, teriam que deixar que as periferias se mobilizarem para só assim terem o direto de fazê-lo.
Isso é conversa fiada. Há grupos políticos no Brasil que se acham donos do movimento social. O que não nascer de suas entranhas (que são de classe média) deve ser solenemente repudiado como “coisa de burguês”.
Na democracia (felizmente ainda vivemos numa), quem quer que seja tem o pleno direito de se mobilizar pelo tema que bem entende. Há quem se mobiliza até pelo que é proibido no Código Penal (a maconha, por exemplo).
O clamor pela segurança pública é um movimento de extremo sentido e de grande amplitude social. Não se melhora a segurança para uns poucos sem que se melhore para todos. Ricos, pobres e remediados são beneficiários do sucesso da causa. Portanto, o tema pelo qual se briga é a favor de toda a sociedade.
A DERROTA DOS PARTIDOS
Pela primeira vez no Ceará, as redes sociais tiverem papel preponderante na organização do movimento. Pela primeira vez, uma manifestação conclamada pela internet teve resultado tão concreto. A aposta quase geral era (não duvidem) que o ato do dia 13 só mobilizaria um punhado sem grande significância.
Deu no que deu.
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