[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Emanuel Vão Gogo | O POVO
Audifax Rios 08/06/2012

Emanuel Vão Gogo

Millôr não era apenas o cartunista, o humorista; era, acima de tudo, o pensador
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Demorou a sair este comentário por motivos óbvios: a grandeza assustadora da personagem abordada e o grande susto, ainda não refeito, provocado com sua ida definitiva. O desfecho esperado mas não desejado. E a angustiante falta que faz e ainda vai fazer. E muito. Não é saudade do seu traço singular, das suas tiradas inesperadas. Millôr não era apenas o cartunista, o humorista; era, acima de tudo, o pensador.


Recorro aos meus alfarrábios e folheio uma coleção de Amigo da Onça do Péricles, preciosidades arrancadas da revista O Cruzeiro que guardo desde a meninice. Coincidentemente trazem sempre nas costas das páginas meio Pif-Paf do Emmanuel Vão Gogo (1945/1963). Estão por lá Fábulas fabulosas, Teatro Corisco, Novocabulário ou Dicionovário. A coluna Pif-Paf (página dupla) saiu da Cruzeiro, virou revista em 1964 com a parceria de Ziraldo, Jaguar, Claudius e Stanislaw Ponte Preta. No oitavo número foi “desaparecida” pela censura da ditadura militar. Quando Millôr foi pro Pasquim do Jaguar, Tarso de Castro e Sérgio Cabral, em 1969. Em setenta e dois já era o maior arauto daquela tribuna popular. Antes já colaborara nas revistas Voga e A Cigarra, nesta com a coluna (página inteira) Eva sem costela. Também escancarou o Brasil nas páginas da Tribuna da Imprensa e Correio da Manhã.


Folheio outro calhamaço encadernado. Páginas da Veja dos anos 1970. O título agora, Supermercado Millôr. Nas prateleiras: Livre pensar é só pensar, Hein, como foi mesmo a História?, Reflexões sem dor... seus textos saborosos, seus desenhos desconchavados, suas frases lapidares. Depois mudou para “Millôr (Fernandes), enfim um escritor sem estilo”. Seu nome de guerra, como se não bastasse o desarranjo batismal, desembrulhado, sempre renovado na forma, letras características, com dimensões absurdas, como se pudéssemos ver todos os lados do universo, todas as facetas da alma humana, todos os eus dele.


Em 1982 o escriba irreverente foi demitido da Veja sob a alegação de defender a política de Leonel Brizzola para voltar em 2004 com a verve bem apurada, o desenho mais despojado ainda e o senso crítico/filosófico pra lá de maduro. A par disso escrevia para teatro, traduzia livros e peças, fazia roteiros de filmes, letras de música e exposições de pintura. Das peças lembramos: Liberdade, liberdade (com Flávio Rangel), Computa, computador, computa, É, Memórias de um sargento de milícias (adaptação do romance de Manoel Antonio de Almeida), Uma mulher em três atos, Do tamanho de um defunto, Um elefante no caos; Dos livros citamos: Fábulas fabulosas, Livro vermelho dos pensamentos do Millôr, Trinta anos de mim mesmo, Reflexões sem dor e Millôr definitivo – a bíblia do caos.


Como esta crônica ficou a cara de uma biografia tradicional acrescentaremos as datas de vinda e ida: 1924 e 2012. 88 anos de consciência política derramados no papel da forma mais brasileira possível.


E nada como um pensamento seu para fechar este texto feito homenagem, que tal este aqui, sobre ele mesmo?: “Eu também não sou um homem livre. Mas nunca ninguém esteve tão perto”. E estoutro: “Todos os homens nascem iguais; e alguns até piores”. E mais este conceituando seu campo de combate: “O humorismo é a quintessência da seriedade”.


Este é o genial Millôr, um “jornalista sem fins lucrativos”.

 

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