[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Um tratamento que cura de vez... | O POVO
Professor Pasquale 14/05/2012

Um tratamento que cura de vez...

Convém reforçar: o modo indicativo expressa fato posto no plano da certeza, da realidade; o subjuntivo expressa fato posto no plano da dúvida, da hipótese
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Diga lá, caro leitor: construções como “um tratamento que cura de vez a doença” e “um tratamento que cure de vez a doença” são possíveis ou, como preferem alguns, são corretas? E, se são possíveis ou corretas, são equivalentes?


A pergunta não é minha; é de uma leitora, que diz que em seu local de trabalho sempre se cria polêmica quando é preciso decidir entre o indicativo e o subjuntivo em mensagens que a empresa envia para a clientela.


Vamos com calma, com muita calma. Imagine o seguinte: certa pessoa tem muitas dores nas juntas (parece aquela infame piada, mas não é). O infeliz já tentou tudo, e nada de se livrar das benditas dores. Um belo dia, um vizinho lhe disse que um parente tinha as mesmas dores e se livrou delas com um determinado tratamento. O enfermo resolveu seguir a dica do vizinho e se deu bem. Depois de sarar, esse felizardo poderia muito bem dizer que conhece um tratamento que cura de vez as tais dores. Note que foi usada a forma “cura”, do presente do indicativo, que expressa fato posto no plano da certeza. Com ela, o emissor da frase já sabe que aquele tratamento resolve, elimina de vez o problema, ou seja, cura as tais dores.


Agora voltemos ao estado anterior do enfermo, ou seja, antes da dica do vizinho, quando ainda estava doido para se livrar das dores. É perfeitamente possível imaginar esse indivíduo perguntando a alguém: “Você conhece algum tratamento que cure de vez as terríveis dores que sinto nas juntas?”. Note que a forma verbal empregada agora é “cure”, do presente do subjuntivo, que expressa fato posto no plano da hipótese, da suposição, da dúvida.


Se você leu com atenção, deve ter notado que o tempo das duas formas verbais (“cura” e “cure”) é o mesmo (as duas flexões são do presente); o que as distingue é o modo: “cura” é do modo indicativo; “cure” é do modo subjuntivo. Convém reforçar: o modo indicativo expressa fato posto no plano da certeza, da realidade; o subjuntivo expressa fato posto no plano da dúvida, da hipótese etc. Por isso, é perfeitamente possível, por exemplo, optar entre “Creio que ela seja” e “Creio que ela é”, de acordo com o que se quer salientar. Quem diz “Creio que ela é a mulher mais indicada para a missão” manifesta mais convicção do que quem diz “Creio que ela seja a mulher mais indicada para a missão”.


Como se vê, ocorre aí mais uma das tantas situações em que a questão não deve ser posta no plano do “certo ou errado”, “qual é a correta?” ou “qual é a certa?”, como se uma opção excluísse a outra. A melhor resposta a essas perguntas sobre a escolha do modo verbal é “depende” (da situação, do caso, do que se quer enfatizar etc.).


A mesma resposta (“depende”) pode ser dada em relação a formas como “era” (do pretérito imperfeito do indicativo) e “fosse” (do pretérito imperfeito do subjuntivo), quando usadas em orações que complementam verbos como “crer”, “duvidar”, “suspeitar” etc. ou nomes como “desconfiança”, “suspeita” etc. Pense nestas duas construções: “Suspeitávamos que ele fosse honesto”; “Suspeitávamos que ele era honesto”. No primeiro exemplo, a forma “fosse” realça a suspeita, ou seja, havia mais dúvida do que certeza; no segundo, a forma “era” manifesta que havia mais certeza do que dúvida em relação à honestidade do tal indivíduo.


Agora pense nesta construção: “O governo estima que haja no país X milhões de desempregados”. Com a forma “haja”, salienta-se que se trata de uma estimativa, de uma hipótese, e não de um número exato, próximo do real, obtido com informações resultantes de pesquisas ou de dados fornecidos por empresas, sindicatos etc. Se no lugar de “haja” se usasse a forma “há” (“O governo estima que há no país X milhões de desempregados”), manifesta-se a convicção de que o número apresentado é muito próximo do real.


Até segunda. Um forte abraço.

 

Pasquale Cipro Neto
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