[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Raptar, adaptar, impregnar... | Coluna Ao Pé da Letra | O POVO Online
ao pé da letra 16/01/2012 - 01h00

Raptar, adaptar, impregnar...

"Imagino que você já tenha ouvido certas flexões de verbos como "adaptar", "optar" etc. pronunciadas como se houvesse um "i" tônico depois do "p"

Lembra-se de Rapte-me, Camaleoa, memorável canção de Caetano Veloso? A canção já é trintona (na verdade, já comemorou 31 anos, visto que é de 1981). Lembra como Caetano pronuncia as formas verbais %u201Crapte%u201D, %u201Cadapte%u201D e outras que há na letra? Onde cai o acento tônico dessas formas verbais?

Imagino que você já tenha ouvido certas flexões de verbos como %u201Cadaptar%u201D, %u201Coptar%u201D etc. pronunciadas como se houvesse um %u201Ci%u201D tônico depois do %u201Cp%u201D (algo como %u201Cadapíto%u201D, %u201Copíto%u201D, %u201Cadapítam%u201D, %u201Copítam%u201D etc.). Essas pronúncias, que não ocorrem no padrão culto da língua, talvez possam ser explicadas pelo fato de nós (os falantes) pronunciarmos o infinitivo desses verbos como se nele houvesse um %u201Ci%u201D depois do %u201Cp%u201D, ou seja, como se os verbos fossem %u201Cadapitar%u201D, %u201Copitar%u201D etc.

O fato é que não existe o tal do %u201Ci%u201D no infinitivo desses e de outros verbos, como %u201Craptar%u201D, %u201Ccaptar%u201D, %u201Cinterceptar%u201D, %u201Creceptar%u201D, assim como não existe em verbos como %u201Cresignar%u201D, %u201Cdignar%u201D, %u201Crepugnar%u201D, %u201Cpugnar%u201D, %u201Cestagnar%u201D, %u201Cimpugnar%u201D, %u201Cdesignar%u201D, %u201Cimpregnar%u201D, %u201Cconsignar%u201D, %u201Cdignar%u201D etc.

A conjugação do presente do indicativo de todos esses verbos é regular, o que significa que as três flexões do singular (eu, tu e ele/a) e a da terceira pessoa do plural (eles/elas) são paroxítonas, como são paroxítonas essas flexões em verbos regulares como %u201Ccantar%u201D (canto, cantas, canta, cantam), %u201Cbeber%u201D (bebo, bebes, bebe, bebem), %u201Cassistir%u201D (assisto, assistes, assiste, assistem) etc. Moral da história: a sílaba tônica de %u201Cadapto%u201D, %u201Cadaptas%u201D, %u201Cadapta%u201D e %u201Cadaptam%u201D é %u201Cdap%u201D (leia %u201CadÁpto%u201D, %u201CadÁptas%u201D, %u201CadÁpta%u201D, %u201CadÁptam%u201D).

Na conjugação de verbos como %u201Cresignar%u201D, %u201Cdesignar%u201D ou %u201Cimpregnar%u201D, por exemplo, ocorre o mesmo fato: muita gente flexiona esses verbos como se no infinitivo houvesse um %u201Ci%u201D (%u201Cui%u201D, na verdade) depois do %u201Cg%u201D, ou seja, como se os verbos fossem %u201Cresiguinar%u201D etc. O resultado disso é a emissão de formas como %u201Cresiguína%u201D (%u201CEla não se resiguína com essa perda%u201D), %u201Cdesiguína%u201D (%u201CPara essa tarefa, ele sempre desiguína o funcionário mais experiente%u201D) ou %u201Cimpreguína%u201D (%u201CA roupa se impreguína de todos esses cheiros horríveis%u201D).

É bom deixar bem claro: embora justificáveis e compreensíveis, essas pronúncias não são adequadas ao que padrão culto da língua. Vamos, pois, reler as frases, com a pronúncia do padrão culto: %u201CEla não se resÍgna com essa perda%u201D; %u201CPara essa tarefa, ela sempre desÍgna o funcionário mais experiente%u201D; %u201CA roupa se imprÉgna de todos esses cheiros horríveis%u201D.

Moral da história: leia %u201Cresigna%u201D e %u201Cdesigna%u201D como se lê %u201Cdigna%u201D ou %u201Cmaligna%u201D; leia %u201Cimpregno%u201D, %u201Cimpregna%u201D e %u201Cimpregnam%u201D com força no %u201Ce%u201D da sílaba %u201Cpreg%u201D (%u201CEssas coisas se imprÉgnam na roupa%u201D). No presente do subjuntivo, ocorre exatamente a mesma coisa: %u201CEspero que ele me designe (lê-se %u2018desÍgne%u2019) para a missão%u201D, %u201CTalvez que você jamais se resigne (lê-se %u2018resÍgne%u2019)%u201D, %u201CPara que o cheiro não se impregne (lê-se %u2018imprÉgne%u2019) na roupa, basta...%u201D.

Por fim, é bom lembrar que o %u201Cdecapitar%u201D não tem nada com a história. Note que há um %u201Ci%u201D depois do %u201Cp%u201D em %u201Cdecapitar%u201D, portanto nada de dizer que em certas partes do mundo ainda se %u201CdecÁptam%u201D as pessoas. O verbo é %u201Cdecapitar%u201D, com %u201Ci%u201D, e pertence à mesma família latina que nos deu a expressão %u201Cper capita%u201D (%u201Cpor cabeça%u201D). A renda %u201Cper capita%u201D é a renda por cabeça, isto é, por pessoa.

A esta altura, você já deve ter concluído que as flexões de %u201Cdecapitar%u201D são regulares, portanto você pode seguir a conjugação de %u201Cfalar%u201D, %u201Candar%u201D ou a de qualquer verbo regular terminado em %u201C-ar%u201D. Vejamos: eu decapito, tu decapitas, ele decapita, nós decapitamos, vós decapitais, eles decapitam. Como você leu essas formas? Espero que tenha posto força no %u201Ci%u201D da sílaba %u201Cpi%u201D das formas relativas a %u201Ceu%u201D, %u201Ctu%u201D, %u201Cele%u201D e %u201Celes%u201D. Nas outras duas, força no %u201Ca%u201D que vem depois do %u201Ct%u201D (nós decapitAmos, vós decapitAis%u201D).

Até segunda. Um forte abraço.

Professor Pasquale
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