[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] "Inflação não freia o consumo..." | Coluna Ao Pé da Letra | O POVO Online
Professor Pasquale 02/01/2012 - 01h30

"Inflação não freia o consumo..."

O caro leitor talvez já tenha visto em algum lugar a forma verbal "freia" virar "frea", sem o "i"


Mais uma vez, a inflação é o mote da nossa conversa. Desta vez, nosso mote será uma chamada de um jornal de TV, que no fim do ano... Haja paciência para aguentar matérias requentadas, que se repetem anos a fio.


Pois bem. Um desses telejornais deu a seguinte manchete: “Inflação não freia o consumo...”. Como já faz um bocado de tempo que não trocamos dois dedos de prosa sobre a flexão de verbos terminados em “-ear” (como “frear”), resolvi tocar na questão.


O caro leitor talvez já tenha visto em algum lugar a forma verbal “freia” virar “frea”, sem o “i”. Quem lê habitualmente este espaço sabe que não vejo razão para tempestades por causa da bendita ortografia, mas, se existe um sistema ortográfico vigente, parece razoável imaginar que se deva respeitá-lo.


De início, é bom lembrar que o verbo é “frear”, sem “i” no infinitivo. Com exceção de “veiar”, que significa “formar veios em” e encontra registro no Houaiss, no Aurélio e no Vocabulário Ortográfico, não existem verbos terminados em “-eiar”. Não há registro de “freiar”, “bloqueiar”, “passeiar”, “receiar”, “mapeiar” etc. O infinitivo desses verbos é grafado sem “i”: “frear”, “bloquear”, “passear”, “recear”, “mapear” etc.


No infinitivo desses verbos não existe “i” antes de “ar”, mas nas flexões a coisa muda. Todos (todos, sem exceção) os verbos terminados em “-ear” seguem o mesmo padrão de conjugação: o “i” depois do radical só aparece nas formas rizotônicas do presente do indicativo e do presente do subjuntivo. Ai, ai ai... Radical? Formas rizotônicas? Que diabo será isso? Talvez não fosse necessário empregar esses termos técnicos, mas, se você procurar verbos como “frear” ou “bloquear” num dicionário (Aurélio, Houaiss, entre outros), verá que a explicação inclui termos como os que citei, e aí... E aí parece melhor saber o que são formas rizotônicas, o que é radical de verbo etc.


Direto ao ponto: o radical de um verbo é o que resta do infinitivo quando dele se extrai a terminação “-ar”, “-er” ou “-ir”. O radical de “andar”, portanto, é “and-”, o de “sofrer” é “sofr-”, o de “decidir” é “decid-”, o de “frear” é “fre-”, o de “recear” é “rece-” etc. São rizotônicas as formas verbais cuja vogal tônica cai no radical; são arrizotônicas aquelas cuja vogal tônica cai fora do radical.


Vamos tomar como exemplo “ando” e “andamos”, flexões do verbo “andar”. Não custa lembrar que o radical de “andar” é “and-”. “Ando” é forma rizotônica, porque sua vogal tônica (o “a” da sílaba “an”) está no radical; “andamos” é forma arrizotônica, porque sua vogal tônica (o “a” da sílaba “da”) está fora do radical (que, como já se sabe, é “and-”).


Agora você já pode entender o que querem dizer o Aurélio, o Houaiss e outros dicionários em afirmações como estas: “Recebe um ‘i’ depois do ‘e’ nas formas rizotônicas” (do Aurélio, no verbete “frear”).


Vamos traduzir de vez essa nomenclatura: nas flexões dos verbos terminados em “-ear”, só existe “i” depois do radical nas formas relativas a “eu”, “tu”, “ele” e “eles” do presente do indicativo e do presente do subjuntivo. Em todas as demais formas, nada de “i” depois do radical. Na prática, isso significa que o presente do indicativo de “bloquear” é “eu bloqueio, tu bloqueias, ele bloqueia, nós bloqueamos, vós bloqueais, eles bloqueiam”; o presente do subjuntivo é “que eu bloqueie, que tu bloqueies, que ele bloqueie, que nós bloqueemos, que vós bloqueeis, que eles bloqueiem”.


Nas demais formas (do indicativo e do subjuntivo), nada de “i” depois do radical: “eu bloqueei”, “ele bloqueou”, “eles bloquearam”; “eu bloqueava”, “nós bloqueávamos”, “eles bloqueavam”; “eu bloquearei”, “nós bloquearemos”, “eles bloquearão”; “se eu bloqueasse”, “se bloqueássemos”, “se bloqueassem”; “se bloquearmos” etc. E não custa repetir: o que vale para “bloquear” vale para todos os verbos terminados em “-ear” (freio, freei, freava, frearei, freia, freava, freou, freará etc.).


Até segunda. Um forte abraço.

 

Pasquale Cipro Neto
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