[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Conversas de Nascimento | O POVO Online
03/06/1997 26/10/2012 - 08h00

Conversas de Nascimento

Recuperado da doença que o deixou abatido durante vários meses, Milton Nascimento agora investe todas as energias na divulgação de seu novo disco, Nascimento. Em entrevista ao Vida & Arte, ele fala sobre o trabalho, sua ligação com o universo infantil e ainda revela o motivo de tanta timidez
Acervo O POVO
Detalhe da página do Jornal O POVO, publicada em 03/06/1997
Compartilhar

Jornal O POVO, 03/06/1997


Autor: Christiane Viana


Recuperado da doença que o deixou abatido durante vários meses, Milton Nascimento agora investe todas as energias na divulgação de seu novo disco, Nascimento. Em entrevista ao Vida & Arte, ele fala sobre o trabalho, sua ligação com o universo infantil e ainda revela o motivo de tanta timidez

Vida & Arte - Em Nascimento, você trabalha com algumas sonoridades que não eram muito usadas em discos anteriores seus. De onde surgiu a idéia de explorar mais o folclore de Minas?

Milton Nascimento - Pensando bem, a gente já usou elementos folclóricos antes, mas não se sobressaltava alguma coisa em especial, era tudo misturado, harmonia, melodia... Agora, dessa vez, foi uma coisa assim que deu vontade de mostrar, provar que não só no Rio de Janeiro ou na Bahia tem percussão. E, como tem um baterista que toca comigo agora, chamado Lincoln (Cheib), que é um pesquisador mineiro, então, ele saiu pesquisando tudo: congado, reisado, festas populares realizadas principalmente por vaqueiros de Minas... Então, a gente resolveu puxar dessa vez a percussão pra frente. Inclusive, gravamos essa percussão primeiro, depois (enfático) é que fizemos o restante.

V&A - Milton, por que a escolha do Russ Titelman - norte-americano - como produtor? E até que ponto ele também interferiu na sonoridade do trabalho?

Milton - Bem, ele havia participado de uma faixa do Angelus e se apaixonou pela gente - não só por mim, mas pela rapaziada toda - e a gente também por ele. Então, falei, vamos fazer mais coisas, né? E foi um negócio fantástico, porque esse era o tipo de trabalho que ele tava querendo fazer agora. Então, foi tudo muito fácil, feliz, porque todo mundo se deu bem, não teve briga - geralmente o produtor com o artista acabam se desentendendo - mas não teve nada disso. E talvez a gente continue trabalhando com ele.

V&A - Falando ainda sobre a sua parceria com estrangeiros, a Björk (cantora islandesa) ouviu um disco seu e se apaixonou, chamou, inclusive, o Eumir Deodato - produtor do trabalho - para arranjar umas faixas do último álbum dela (Post). Ela teve algum contato com você, quando esteve recentemente no Brasil, no Free Jazz Festival?

Milton - Só não teve, porque eu não estava no Brasil na época - outubro do ano passado. Mas ela chegou a me procurar. Esse desencontro já aconteceu outras vezes comigo. Por exemplo, quando o Genesis estava no auge, eles estiveram aqui e me procuraram, mas não conseguiram me achar, porque eu também estava viajando. E eu nem tava sabendo disso, era louco pelo Genesis!

V&A - Como é que você prepara um disco. Você estava falando que no caso de Nascimento não houve problemas, as gravações foram tranqüilas. Mas como é o processo de elaboração do trabalho? A Zizi Possi, por exemplo, diz que já entra com tudo ensaiado, prontinho, porque detesta ficar muito tempo em estúdio. Você também é assim ou chega a compor no estúdio?

Milton - Geralmente, a gente entra com as idéias todas prontas, chega lá e muda tudo (risos)... Não, na verdade, não muda tudo, mas muda muita coisa, porque a gente tem muita liberdade para mexer... Então, chega uma hora em que a gente diz: "Poxa, isso aqui deve ser reforçado", e aí vai mudando.

V&A - O Nascimento teve muitas mudanças? E o atraso no lançamento do disco teve a ver com essas mudanças ou foi mais uma conseqüência de seu problema de saúde?

Milton - O disco ia sair em novembro. Mas, por causa da minha saúde, a gente resolveu atrasar, porque para lançar um disco, tem que fazer também um show. Mas o trabalho já tava pronto desde o ano passado.

V&A - E o seu processo de composição, Milton? Você já tocou baixo numa banda de jazz. É verdade que você compõe tendo em mente sempre a sonoridade desse instrumento?

Milton - É, o baixo é o instrumento que me acompanha. Todas as minhas músicas têm alguma coisa do baixo como referência.

V&A - Milton, na época em que o livro Os Sonhos Não Envelhecem - Histórias do Clube da Esquina, do Márcio Borges, foi lançado, você falou da vontade de escrever também. É um projeto para breve?

Milton - Eu sempre gostei de escrever. E nunca escrevi um livro, principalmente autobiográfico, porque tinha medo de que ninguém fosse acreditar naquilo que eu ia contar (risos)... Por enquanto, eu não tô pensando nisso, não. Mas, se der na cabeça, pode ser que, de uma hora para outra, eu faça.

V&A - Ainda em relação ao Clube da Esquina, naquele tempo você era considerado um dos mais brincalhões do grupo. Hoje em dia, no entanto, seu jeito é bem contido. Essa timidez é reflexo de uma maior maturidade ou, na verdade, você só é tímido publicamente e, com os amigos, se solta?

Milton - Brinco muito ainda com os amigos, as pessoas mais próximas. E o que me modificou assim, no aspecto geral, foi a ditadura, os anos de ditadura que a gente teve aqui no Brasil. Foram muitos amigos que sumiram, coisas terríveis que aconteceram e que foram apagando um pouco o meu sorriso. Mas não acabou tudo, não.

V&A - Analisando o seu trabalho, a gente percebe uma ligação grande com as crianças. No disco anterior, o Amigo, há participação de dois corais infantis. Você colaborou ainda na trilha sonora do filme O Menino Maluquinho... O que atrai mais a sua atenção no universo infantil?

Milton - Pra mim, criança é um anjo, é o futuro, é onde a gente tem que prestar mais atenção. A criança merece tudo (enfatiza) e tudo é pouco. E também, como eu gosto de trabalhar com vozes, nada melhor que vozes infantis, porque aí a gente faz diferente, muda tudo.

V&A - Você acabou de dizer que a criança merece tudo. Qual, então, a sua reação ao ver tragédias como a chacina da Candelária?

Milton - Esse mundo tá completamente errado. Mas não é só a chacina, é também a fome... Acho o seguinte: a gente tem o microfone ou a caneta na mão para falar sempre de tudo! Porque, de repente, sai a chacina da Candelária, mas um tempo depois ninguém fala mais, passam para uma outra coisa ... o que tem ibope, a mídia cai em cima, depois esquece. Aí, para se voltar tudo é um desastre.

V&A - Pois é. Hoje em dia no Brasil, os escândalos se sucedem. Como você vê a situação do País atualmente e qual a sua análise do governo do Fernando Henrique?

Milton - Olha, eu acho que a situação do Brasil não tá só no Governo; tá na sociedade em geral. Porque você vê que aqui tem pessoas com situação financeira boa ou ótima, que deveriam estar ensinando as pessoas que tão matando, roubando. Então, é muito fácil você falar só do Governo, mas todo mundo tem sua responsabilidade.

V&A - Retomando a questão da música. Você chegou a gravar um disco com o RPM, ainda na década de 80. A música pop contemporânea tem uma grande força no País, inclusive grupos mineiros, como o Skank. Você ouve o trabalho desse pessoal?

Milton - Ouço, inclusive, vou trabalhar com o pessoal do Skank, já tá tudo mais ou menos acertado. A gente tá esperando apenas uma hora em que possa sentar em algum lugar e realizar alguma coisa.

Maria Teresa Ayres mariateresa@opovo.com.br
Compartilhar
espaço do leitor
Tomaz Torelli 14/11/2012 09:36
Visivel a intenção do(a) entrevistador(a) em que MN atacasse o governo. Como ele nao caiu nessa, o assunto foi logo mudado. É esse o jornalismo "imparcial"do OPOVO?
Este comentário é inapropriado?Denuncie
1
Comentários
300
As informações são de responsabilidade do autor:

Banco de Dados O POVO

Unidade de informação jornalística que mantém a guarda dos arquivos publicados no O POVO desde 1928.

Fale Conosco

E-mail: bancodedados@opovo.com.br
Tel: 85 3255.6142 ou 85 3255.6140

  • Em Breve

    Ofertas incríveis para você

    Aguarde

Erro ao renderizar o portlet: Caixa Jornal De Hoje

Erro: maximum recursion depth exceeded while calling a Python object

Newsletter

Receba as notícias do Canal Acervo

Powered by Feedburner/Google